O mercado norte-americano de carne bovina utiliza um sistema consolidado de classificação de qualidade desenvolvido pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA). Essa classificação leva em consideração o grau de marmoreio (gordura intramuscular) e a maturidade fisiológica do animal, determinando três categorias principais: Prime, Choice e Select.
Duas das raças mais relevantes no contexto da carne premium são o Angus e o Wagyu cruzado. Ambas apresentam características genéticas e produtivas distintas, que influenciam diretamente no desempenho final da carcaça e na distribuição entre as categorias do USDA.
Distribuição de Classificação USDA: Angus
Segundo dados do USDA Agricultural Marketing Service (AMS) e da Certified Angus Beef (CAB), a distribuição média da carne bovina Angus é:
- Prime: 3% a 6%
- Choice: 60% a 70%
- Select: 20% a 30%
Grande parte da carne Angus fica concentrada na categoria Choice, sendo que apenas uma pequena parcela atinge o padrão Prime. A certificação CAB, por exemplo, considera apenas carcaças “Upper Choice” para cima, atendendo a critérios adicionais de cor, firmeza, textura e marmoreio.
Fontes:
- www.ams.usda.gov
- www.certifiedangusbeef.com
Distribuição de Classificação USDA: Wagyu Cruzado
Nos Estados Unidos, o Wagyu cruzado é geralmente o resultado do cruzamento entre Wagyu (japonês puro) e raças taurinas como o Angus. A distribuição estimada da classificação USDA para esses animais é significativamente diferente, refletindo o alto potencial de marmoreio herdado do Wagyu:
- Prime: 40% a 60%
- Choice: 30% a 50%
- Select: até 10%
Empresas como a Snake River Farms, pioneira na produção de Wagyu cruzado nos EUA, relatam que mais de 90% de suas carcaças atingem pelo menos o padrão Prime ou superior. Por conta disso, geralmente são adotados sistemas de classificações proprios para animais Wagyu.
Fontes:
- www.snakeriverfarms.com
- beef.wsu.edu
- agrilifeextension.tamu.edu
- beefextension.okstate.edu
Comparativo Gráfico
A seguir, um gráfico comparativo da distribuição de classificação USDA entre carcaças de animais Angus e Wagyu cruzado:
Fatores que Influenciam o Desempenho das Raças
1. Genética:
O marmoreio é uma característica altamente hereditária. O gado Wagyu é reconhecido por sua capacidade genética de depositar gordura intramuscular em níveis superiores. Mesmo cruzamentos F1 (50% Wagyu) já apresentam resultados significativamente melhores que o Angus puro.
2. Alimentação:
Animais Wagyu cruzados são frequentemente submetidos a dietas altamente energéticas por períodos prolongados (300+ dias de confinamento), o que potencializa ainda mais o marmoreio. O Angus tradicional costuma ser terminado com dietas intensivas, mas por um período mais curto.
3. Idade ao Abate:
O Wagyu cruzado é normalmente abatido entre 24 a 30 meses, tempo suficiente para maximizar o marmoreio. Em contrapartida, o Angus costuma ser abatido mais cedo (18 a 24 meses), o que limita o desenvolvimento de gordura intramuscular.
4. Programas de Qualidade:
O Angus conta com o Certified Angus Beef Program, enquanto o Wagyu cruzado é comercializado por marcas premium como a Snake River Farms, com escalas próprias e padronizações inspiradas no sistema japonês.
5. Maturidade Fisiológica:
Carcaças de animais jovens tendem a ser mais valorizadas pelo USDA. Tanto programas de Angus como de Wagyu cruzado priorizam animais com maturação fisiológica ideal para atingir os níveis mais altos da classificação.
Conclusão
A comparação entre Angus e Wagyu cruzado evidencia diferenças substanciais no desempenho e no resultado final das carcaças dentro do sistema USDA. O Wagyu cruzado se destaca por seu elevado potencial de marmoreio, resultando em maior percentual de carnes classificadas como Prime e Upper Choice, enquanto o Angus permanece como a base da carne premium nos EUA, com grande volume e consistência.
Compreender esses fatores é essencial para produtores, frigoríficos e consumidores que buscam posicionamento estratégico e valorização do produto final no mercado de carne bovina premium.